“Marina quer nascer”
Assim, Pricilla solicitou a presença da equipe em sua casa. Essa frase diz tanto… Diz sobre o respeito em esperar a hora que seu filho está pronto para vir e embarcar nessa aventura que é a vida. Ela já é mãe de dois, já criou os calos que nos ensinam a estar sempre prontas. Ela estava pronta. Agora, Marina também estava. As duas deram as mãos para fazer essa travessia.
A frase ecoava enquanto eu corria contra o tempo em direção à casa dela.
Três passos apartamento adentro e não existia mais mundo lá fora… respeitosamente e pisando mansinho, eu entrava no universo dela. Uma energia acolhedora me envolveu, como um abraço onipresente. Arrepio o corpo inteiro a todo instante. Casa cheia de vida, parede riscada, brinquedo no chão. Casa com cheiro de vida. E de laranja doce com lavanda. Todos os sentidos aguçados.
Em volta, marido e uma rede de mulheres, silenciosamente poderosas, parteiras, doulas… mulheres que servem mulheres, rede de apoio, cuidado, proteção e respeito. No centro, Pricilla, de olhos fechados, lábios cerrados, respiração lenta e profunda, em seu universo interior.
O universo dela tem pés no chão, tambores, danças, mantras, chás, velas, pedras, patuás, folhas, fogo e água. Água em que ela submerge agora,. De coração e braços abertos para um “aceitar” a dor, quase um “ansiar” por essa dor… que abre os nossos ossos, que nos parte no meio, nos vira do avesso, nos transforma e nós entrega nos braços o maior amor de nossas vidas.
Da água para a água, do ventre para as mãos seguras de sua mãe, acolhida no peito, envolta pelos braços da mãe, sob o olhar protetor do pai, debaixo de um teto de amor e respeito, esperando pelos irmãos que já já iria conhecer.
Amor. Marina.