Vou começar essa matéria com uma coisa que, se você não sabe, você precisa saber. Amiga, parir dói! Pronto, passamos a parte mais difícil da matéria. O resto vai ser mais fácil, pode acreditar. Ah, e no item 04 você vai perceber que a dor é relativa e subjetiva…. vamos lá?
Bem, colocando cada coisa em seu lugar: Parto Normal não é, necessariamente, Parto Natural. Quando uma mulher opta por um parto natural, ela opta por um parto vaginal sem intervenções farmacológicas como anestesia ou substâncias para acelerar o trabalho de parto.
Num parto natural a mulher tem maior escuta sobre seu corpo e consegue conduzir com melhor consciência o nascimento de seu bebê. A dor, portanto, faz parte desse processo. Mesmo assim, o parto natural vem ganhando cada vez mais adeptas.
“Um crescimento na busca pelo parto natural vem acontecendo nas últimas décadas e isso é fruto de maior informação por parte das pacientes sobre o processo de transformação da mulher em mãe. À medida em que domina o que ocorre com seu corpo, a mulher consegue enveredar por essa linda e recompensadora jornada” – Amanda Vieira – Ginecologista Obstetra
O parto natural exclui o uso de substâncias medicamentosas para alívio da dor, no entanto outros métodos são utilizados com essa função. De qualquer forma, mesmo em um parto normal com uso de analgesia, é provável que você sinta dor em alguns momentos, porque você não vai estar sob efeito de analgesia durante todo o processo (obs: é o que esperamos!).
Portanto, consultamos alguns especialistas e falaremos sobre algumas ações que contribuem para o alívio da dor no parto. Seguem abaixo:
- Escolher a sua posição para parir
“A melhor posição para parir é estritamente e absolutamente a posição escolhida pela parturiente. Sempre temos uma inclinação à posição vertical por ajuda da gravidade, mas cada parto e escolha são únicos” – Observa Amanda Vieira, ginecologista obstetra.
2. Ter uma Doula:
A palavra Doula vem do grego e significa “mulher que serve”. Hoje é utilizada para referir-se à mulher que orienta e assiste a nova mãe no parto. Doulas são capacitadas a oferecer medidas de conforto físico através de massagens, relaxamentos, técnicas de respiração, banhos e sugestão de posições e movimentações que auxiliem o progresso do trabalho de parto e diminuição da dor e desconforto.
“A presença da doula é sempre um facilitador do trabalho de parto. Elas ajudam passando confiança e tranquilidade, o que muitas vezes falta à gestante no momento de maior dor. Mas não esqueçam, a mulher nasceu para parir e apenas ela é insubstituível no processo” – acrescenta a obstetra Amanda.
Quer saber mais sobre o que fazem as doulas ou onde encontrá-las? Consulte o site da Adoules (Associação das doulas do ES) para saber mais: www.adoules.com.br
3. Imergir em água:
A imersão em água alivia a pressão sobre o corpo e relaxa a musculatura, diminuindo assim a ansiedade, a dor e a necessidade de medicação. Além disso, o contato da água com a pele é um estímulo que distrai o cérebro.
Mulheres que fizeram uso desse recurso relataram que a água morna é relaxante e ajuda no intervalo das contrações, facilita a movimentação e o encontro de uma posição reconfortante.
Para gestantes de baixo risco e bebês com boa vitalidade, o uso da piscina só traz benefícios. O nascimento na água também faz com que a transição do bebê da vida intrauterina para a vida extrauterina aconteça de forma suave, por serem ambos ambientes aquáticos.
Dica: No início do trabalho de parto, ainda em casa, você pode lançar mão desse recurso para não sair tão cedo para o hospital. Lembre-se: quanto mais cedo você chegar, maiores são as chances de intervenções desnecessárias.
4. Perceber de onde vem a sua dor (Eita, que essa é boa!):
Bianca Martins, psicóloga e fundadora da Clínica Infans entende que a origem da dor vai muito além do físico e compartilha. “A dor é sempre subjetiva e cada pessoa tem um limiar de dor.
Existe também um fator cultural. Algumas culturas, como a nossa ocidental – imediatista e hedonista, quer excluir experiências dolorosas e de luto. O parto também é um evento de luto, onde há a perda do feminino pela maternidade, que acontece mesmo de forma inconsciente e cada mulher vive à sua moda.
O parto também é um evento social e em cada cultura é experienciado de um jeito. Na nossa, permeada pela cultura judaico-cristã, pela premissa bíblica “Parirás com dor”, remete-se muito ao pecado original, então quando se cede a um prazer você é expulso do paraíso, do lugar que não existe dor, perda, onde há plenitude. Na experiência judaico-cristã, toda vez que você cede a um prazer, você vai ter que compensar com uma questão dolorosa. Vide o Cristo. Por isso a conexão, desde a ancestralidade, do trabalho de parto com uma questão dolorosa.
O sexo também é permeado pela imagem de algo doloroso, difícil. Assim como a menstruação. Algumas sociedades não enxergam isso desse jeito. O sexo é um tabu ainda e o nascimento é uma questão muito sexual, tem uma conotação de dor, de dificuldade. A gente tem relato de mulheres que retratam a dor do parto com muita naturalidade. É importante questionar quem te acompanhou, quem te acolheu, como você aprendeu as questões relacionadas à gravidez e ao parto, se você teve oportunidade de se projetar na maternidade. Muitas vezes o que torna o parto doloroso é o desconhecido da maternidade, o que vem depois de parir.
Os russos foram os primeiros a estudar técnicas de parto sem dor, partindo de auto hipnose e cuidados emocionais na gravidez. O trabalho de parto não acontece de maneira racional. Quando os hormônios do parto começam a agir, levam a mulher para o estado mais primitivo, mais animalesco. Embora seja um corpo civilizado ele regride à condição animal, mas toda a nossa educação faz com que a gente se afaste dessa condição de animalizado. A cultura então atravessa esse processo e bloqueia que a mulher vivencie isso de forma mais animalizada.
Ao participar de grupos e ouvir relatos de parto, a gente vai aprendendo que cada mulher é única, cada mulher vai parir de um jeito e o corpo vai funcionar e se transformar cada uma à sua moda. A cada novo parto a mulher vive uma nova experiência. É necessário um mergulho no universo materno, além do pré-natal, mas se deparar com questões íntimas do feminino, é importante que a mulher se depare até mesmo com a mãe que ela teve. Não existe uma forma certa de ser mãe, cada mulher vai construir o seu estilo de maternar.”
5. Massagem:
Relaxa a musculatura, diminui e tensão e reduz a percepção da dor. Receber massagem da doula ou do companheiro (a) pode ser muito reconfortante. Em alguns casos o efeito pode ser contrário. O importante é respeitar a individualidade de cada mulher no momento do seu parto.
Escolha previamente um óleo vegetal de sua preferência e combine com o parceiro(a) ou a doula: é sempre importante que se aqueça as mãos antes de massagear, alterne entre movimentos suaves e intensos para sentir o que você mais gosta, sensibilidade para perceber se você está gostando ou não daquele toque (pode ser que no momento você não consiga explicar).
6. Contar com a presença do(a) companheiro(a):
A doula Aline Gusmão garante que a presença do marido no parto é uma analgesia natural, além de proporcionar à mulher um mergulho mais profundo nessa experiência. “O homem é o cuidador. Um estímulo que vai gerar prazer no corpo dessa mulher. Quando toca essa mulher e ela sente prazer, mais ocitocina é liberada e menor dor ela sente”
8. Ter liberdade para se exercitar e se movimentar:
“Hoje se fala muito sobre o termo ‘parto ativo’ e a ideia é realmente essa, manter-se ativa durante o processo. A gestante pode lançar mão de caminhadas e exercícios como subir escadas, marchar com as pernas elevadas e realizar agachamentos. Tais movimentos tendem a aumentar a pressão da cabeça do bebê sobre o colo do útero o que estimularia a produção de ocitocina, o hormônio responsável pelas contrações. Os exercícios também ajudam a aumentar o ritmo e a intensidade das contrações principalmente quando elas não estão num ritmo bem estabelecido. Importante salientar que o exercício não vai induzir o início do trabalho de parto, ele só vai auxiliar se realmente for a hora da mulher parir e ainda assim quando as contrações forem ganhando ritmo. Costumo frisar isso com as gestantes que acompanho, pois muitas já querem iniciar algumas atividades no início das contrações, quando é momento de se poupar para quando o trabalho de parto realmente começar, uma vez que as contrações podem ser extremamente cansativas. Outros exercícios muito utilizados no trabalho de parto são os movimentos pélvicos na bola. A posição vertical adotada na bola, associada aos movimentos que a gestante pode fazer com a região do quadril tendem a relaxar a musculatura da pelve e aumentar os diâmetros dos ângulos pélvicos, o que ajuda na descida e posicionamento do bebê. Esses movimentos lúdicos também agem diretamente na dor proporcionando melhor conforto para a mulher. Vale ressaltar ainda uma última função dos exercícios no trabalho de parto. Eles levam ao aumento da produção de endorfina que tem um importante papel no relaxamento e alívio da dor permitindo uma experiência mais positiva” – são as dicas preciosas de Letícia Rios, Fisioterapeuta e Doula.
E mais…
Há outras inúmeras técnicas que contribuem para a diminuição da percepção da dor tais como meditação, visualização, respiração, hipnose, acupuntura, entre outros. A gestação é um momento de preparação para que a mulher se sinta segura na hora do seu parto, seja qual for o método que venha a adotar. O mais importante de tudo é aproveitar os meses que seguem para se informar, se empoderar e acreditar que seu corpo é perfeito e que parir é natural.
Acredite, você é a protagonista do seu parto.
Karol Felicio – Jornalista e Fotógrafa de Parto
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