O nascimento do Pedro – Thamires e Felipe – Parto Humanizado

 

Mar calmo, vento leve, fogo brando… Thamires.
Não carrega mais a ansiedade e os exageros das mães de primeira viagem. Já se livrou do excesso de bagagem. Tem a serenidade e doçura na medida certa. Guarda sua família debaixo das asas, como uma velha matriarca, por trás do seu rosto de menina.
Viveu seus prodromos enquanto cuidava do mais velho. Criança não tem hora pra adoecer. Enquanto esperava o mais novo. Criança não tem hora pra chegar.
Internalizou toda a dor e todo o cansaço. Se acostumou a não incomodar.
Aceitou cada contração, viveu serenamente seu trabalho de parto. De coração aberto, se entregou.
Na hora certa, se deixou descontrolar. Libertou a leoa que vive dentro dela. Rugiu. Pariu.
Lambeu sua cria mais nova, acolheu a mais velha, abrigou toda a família debaixo de suas asas e voltou a ser: mar calmo, vento leve, fogo brando… Thamires.

O nascimento do Samuel – Parto domiciliar

 

Fluidez… Moça de riso fácil e aparentemente despretensioso. Eu observo. A Isa transita. Falamos sobre o parto enquanto ela passeava entre interlocutores, respondendo aqui e ali, como não se prendesse muito a nada, como se não estivesse muito preocupada.
Entendi durante o parto, no dia seguinte. Despreocupação de quem bem sabe de quem estava cercada. A começar pelo Digo, história de pelos menos 10 anos atrás – e olha que eles só tem 27… mas parece que são parceiros há algumas vidinhas passadas… pra completar uma equipe de doulas e parteiras… uma orquestra de parto.

Sim! Como fossem músicos tocando juntos pela primeira vez e se descobrindo uma orquestra. Não teria sido mais encaixadinho se fosse ensaiado. Perfeita. Isa, mulher como regente. Isa vocalizava com maestria. com notas mais agudas ou mais graves, em melodia mais lenta ou mais apressada. Fazendo a gente respirar fundo ou então perder o ar. Fazendo nosso coração palpitar. E foi vocalizando – suave… baixo… mais forte … gostoso … intenso … nervoso … dramático … até ecoar, reverberar e trazer Samuel. Até se conhecerem e se reconhecerem naquele quarto quentinho, escurinho, protegido, cheio de amor e com cheiro de parto.

O nascimento da Malu – Dani & Saulo

 

Sonhar, planejar, arquitetar…

Construir é edificar sob sólidos pilares, tijolo a tijolo até o resultado planejado.

É com as verdades, sob nosso ponto de vista, que solidificamos em fortes pilares as expectativas sobre o nosso parto. Afinal, achamos que nos conhecemos muito bem… até parir…

Escrever um plano de parto é um dos importantes passos para uma vivencia respeitosa. E rasgá-lo é o passo mais importante para que seja transformador.

Não existe solidez no parto. Os pilares estão lá para serem quebrados. O desafio é justamente se des-construir, virar ruínas e pó, e então deixar-se transformar.

Quem viveu esse parto viu que a palavra que o simboliza é: DES-CONS-TRU-ÇÃO. O que ninguém imagina é como foi para ela se desconstruir e jogar por terra tudo o que foi planejado.

Dani destruiu sua velha casa a marretadas, quando precisou mudar a rota não titubeou, deixou-se virar ruínas, se entregou, sem pose e sem pudor, rasgou o plano, quebrou os pilares, mudou a rota, fluiu…

Dani e Saulo, se desconstruíram juntos, fluíram, se fortaleceram, se complementaram. Força, beleza e amor. Agora são uma casa nova e uma casa cheia, porque abriga dentro de si o seu maior tesouro: Malu.

O nascimento do João – Jaque

A medida do amor
Só a gente sabe o que carrega em nosso coração. Sentimentos que nem nossos pais, nem nossos filhos, muitas vezes, conseguirão acessar. Às vezes a gente precisa apertar o “pause” no controle da vida e reiniciar para as atualizações necessárias. O parto, muitas vezes, é o pause que a gente precisava. O universo não falha e a divindade age de forma intensa nos partos.
A gente, mulher que está parindo, é a principal beneficiada pela transformação que um parto causa. É no parto que nos defrontamos com nossas características e hábitos marcantes, é o parto que nos mostra o que em nós precisa morrer e o que merece ser tomado para nós, enquanto donas de nossas escolhas. Mas esse parto – domiciliar – não planejado pela Jaque – planejado pelo universo – foi generoso com a família toda. Veio resignificar relações, abrir espaço para a entrega, deixar o amor conduzir.
E como foi para essa mulher ver seu plano de um parto hospitalar ser mudado de última hora, como foi lidar com uma situação tão inesperada?
Foi… leve! Exatamente como ela é!
A Jaque é leve e deixa tudo mais leve por onde passa. Quando ela sorri, tudo envolta flutua um pouquinho acima do chão. A Jaque fluiu, junto com o parto… e fluiu tão suavemente que não deu tempo de dar entrada no hospital, nem de colocar as malas no carro, nem do marido chegar… Ela estava ali na casa dos pais e foi de mãos dadas com eles que viveu a maior parte do seu trabalho de parto.
Suave. Fluido. Leve… como ela. Não foi planejado, como não foi em vão. Era pra ser exatamente assim.
João chegou num verdadeiro lar. Com cheiro do almoço que a avó preparava. Cheiro de café – com amor e sem cafeína. Com a alegria do avô, que extravasava. O pai vindo de carro, de outra cidade, tentando conter a ansiedade, trazendo o irmão que apaixonou-se à primeira vista. Olhou, abraçou, cheirou, cortou o cordão, acompanhou atento a pesagem, os primeiros cuidados, tomou para si, desde o primeiro minuto, o papel de cuidar do irmão mais novo. Quanto cuidado! Quando amor!
O amor na medida em que cada um precisava. O amor foi o grande protagonista desse parto.

O nascimento da Helena

Helena, inesperada…

Em casa, parecia não faltar nada. Seis meses da Duda – que reinava absoluta e revolucionava. Enquanto Helena, anunciava sua chegada. Foi abrindo um espaço que sequer imaginava.

Helena, tão esperada!

Do grego Helené. De heláne, tocha. E então, Hélê, raio de sol. Helena é luz. É o raio de sol que precisava, pra florescer terra irrigada. Só podia brotar amor.

Helena, brisa. Duda, furacão.

Como pode uma mulher abrigar no mesmo ventre elementos tão diferentes? É que pouca gente sabe, Renata mora naquele olhar suave, mas dentro dela mora um tufão.

O nascimento da Marina – Pri & Odecio

 

“Marina quer nascer”

Assim, Pricilla solicitou a presença da equipe em sua casa. Essa frase diz tanto… Diz sobre o respeito em esperar a hora que seu filho está pronto para vir e embarcar nessa aventura que é a vida. Ela já é mãe de dois, já criou os calos que nos ensinam a estar sempre prontas. Ela estava pronta. Agora, Marina também estava. As duas deram as mãos para fazer essa travessia.

A frase ecoava enquanto eu corria contra o tempo em direção à casa dela.

Três passos apartamento adentro e não existia mais mundo lá fora… respeitosamente e pisando mansinho, eu entrava no universo dela. Uma energia acolhedora me envolveu, como um abraço onipresente. Arrepio o corpo inteiro a todo instante. Casa cheia de vida, parede riscada, brinquedo no chão. Casa com cheiro de vida. E de laranja doce com lavanda. Todos os sentidos aguçados.

Em volta, marido e uma rede de mulheres, silenciosamente poderosas, parteiras, doulas… mulheres que servem mulheres, rede de apoio, cuidado, proteção e respeito. No centro, Pricilla, de olhos fechados, lábios cerrados, respiração lenta e profunda, em seu universo interior.

O universo dela tem pés no chão, tambores, danças, mantras, chás, velas, pedras, patuás, folhas, fogo e água. Água em que ela submerge agora,. De coração e braços abertos para um “aceitar” a dor, quase um “ansiar” por essa dor… que abre os nossos ossos, que nos parte no meio, nos vira do avesso, nos transforma e nós entrega nos braços o maior amor de nossas vidas.

Da água para a água, do ventre para as mãos seguras de sua mãe, acolhida no peito, envolta pelos braços da mãe, sob o olhar protetor do pai, debaixo de um teto de amor e respeito, esperando pelos irmãos que já já iria conhecer.

Amor. Marina.

O nascimento do Pedro – Grazy & Bruno

 

Entre os estados de consciência e de animalidade. Entre as evidências científicas e um corpo que evidentemente grita. Entre a enfermeira e a mulher. Entre tirar o jaleco e despir a alma.
– Entre o alívio e mais uma contração –
Intervalo marcado no relógio. Rígido como o trotar de um cavalo: conta minutos, centímetros, mede batimentos cardíacos, pede auscuta, pede toque, pede pra parar.
Perde o limiar entre o saber e o controlar.
– Respira. Lá vem outra contração –
Entre o desistir e a maior garra do mundo…
… se entrega, desliga o neocórtex, range os dentes, vira onça.
Fecha os olhos, abre os braços, joga fora o paraquedas, se atira lá do alto… voa!
Recebe o bebê entre as próprias pernas, esquece o apgar, olha pra ele, sorri, chora e diz que faria tudo outra vez.

O nascimento do Davi – Ligia

 

A mesma doçura que a Lígia carregava no olhar, quando abriu a porta de sua casa para mim, há alguns meses, eu encontrei na sala de parto, em fase ativa, com quase 10 de dilatação.
Um olhar doce e um coração manso. Um ronronar de dor. Foram raros os momentos de descontrole. Essa é ela. E junto com ela o acolhimento delicado do Raphael, na medida certa, a medida dela, sem invadir. O toque constante de sua mão na pele dela demonstrava que ele apenas estava ali. E isso era tudo o que ela precisava.
Repassando as fotos, no dia seguinte ao parto, resgatando as sensações, um sorriso não saia do canto da minha boca enquanto reparava – contemplativamente – na cumplicidade discreta desse casal. Eles chamaram e o Davi veio.
Eles transbordaram toda a água represada. Eles eram um mar. A mansidão deu lugar a ondas volumosas de amor e lágrimas. O olhar fixo, forte e sereno do Davi no olhar dos pais – o imprinting, o re-conhecimento – e, ao mesmo tempo, o choramingar baixinho, me fez enxergar a força e a união desse trio. Sim, eles são um trio, um triângulo, equilátero, uniforme, complementar… Eles sempre foram.

O nascimento do Lucas – Ana Paula

 

Acho muito curiosa – e deliciosa – a energia que fica na gente, impregnada, depois de um parto.
Uma bailarina, foi isso que eu senti. A Ana deslizava, navegava… o Marcelo, era o porto onde ela ancorava. A bailarina não mostra, no semblante leve, a força que está brotando das suas entranhas, se a gente reparar bem, enxerga isso nos pés da bailarina – que tremem -, enxerga isso nas mãos da Ana, quando ela aperta e se aperta contra o peito do Marcelo.
Ana, por dentro vulcão, por fora, brisa.
Lucas chegou misturado em água e lágrimas, sorrisos e abraços, procurando o olhar da sua mãe, reconhecendo o pai. Laurinha logo chegou, para receber o irmão mais novo (a sua cara), cheia de curiosidade e ainda aprendendo a lidar com aquele turbilhão de sentimentos em seu coração de criança.
Eles riram, se abraçaram e ficaram naquele quarto, enquanto eu fechava a porta e me despedia, levando comigo essa brisa, essa leveza e esse amor, como um lindo presente, no dia do meu aniversário.

O nascimento do Rafael – Babi & Bruno

(meu primeiro parto)

 

Há poucos meses, Babi me convidou (leia-se “Intimou” rsrs) para fotografar o nascimento de Rafael, meu mais novo sobrinho. Em tempos de smartphone, meu último contato com fotografia “de verdade” foi há mais de 10 anos, ainda na faculdade.

Entrei em pânico! Além disso, seria meu primeiro contato direto com um parto. As chances de isso não dar certo eram enormes. Pensei, pensei, pensei e topei.

Contei com a mentoria da maravilhosa Carla Raiter que com sua paciência e generosidade me orientou para que eu tivesse a técnica e a tranquilidade necessárias para encarar essa missão.

Rafael veio ao mundo num parto domiciliar lindo e cheio de energia boa. Foram 145 imagens emocionantes selecionadas e editadas pela querida Carla.

Os pais amaram o resultado e não há recompensa maior!

Quer saber? Eu amei! Que venham os próximos!

Compartilho com vocês um pouco dessa emoção em algumas dessas fotos a seguir…

Gratidão a Babi e Bruno pela oportunidade