O nascimento de Alina – Allana & Eduardo – Parto Humanizado – Karol Felicio Fotografia de Parto

Silenciar pra ajeitar as coisas no porão da nossa alma. A gente segue silenciando, pra poder seguir em frente.

Segue organizando – às vezes até entulhando – caixa sobre caixa, em gavetas que a gente já até perdeu a chave. Às vezes tem tanta coisa guardada…

[O grito]

O grito é uma lança afiada que vem estilhaçando silêncios e derrubando todas as caixas, subindo a poeira, arrebentando gavetas e escancarando as portas e janelas.

Grito é liberdade, amor e cura.

Tem dores que urgem serem gritadas, porque às vezes, dentro da gente, não tem nada mais ensurdecedor que o silêncio.

{O nascimento da Giovana} – Parto Domiciliar

 

Dor é coisa de cada um. Por aqui, parir não é tabu. As crianças chegam quando tem que chegar.
Quem vier com amor já pode entrar. Deixa as coisas na sala, passa um café, deita na rede.
Todo mundo em casa. Afeto aqui é coisa que não falta.

As meninas estão dormindo, amanhã tem aula. Mas se acordar, vem se juntar. Tem uma geração de mulheres e uma rede de apoio pra acompanhar.
Energia Feminina. Vovó acorda a tempo de ver Giovana chegar. Desculpa, pai, não deu pra te esperar.

Já tem cheiro de pão de queijo. Passa mais um café, arruma a mochila, que o sol raioi e o dia precisa recomeçar.
Giovana já é de casa. Liga a TV e dá um cantinho do sofá.

{O nascimento do João} – Parto Humanizado

 

Gente que é feita de sorriso.
Sorriso que transborda. Quando transborda irradia.
Sorrir muda a energia, muda o dia.

Quem tem sorriso na alma não precisa de piada. Sorrir é estado de graça.
E mesmo que não esteja fácil, tem sempre um sorriso estampado na cara
Porque quando a gente sorri, o universo sorri de volta.

Gratidão pelo sorriso que vocês brotaram em mim

O nascimento da Betina – Juliane e Neto – Parto Humanizado

 

Preguiça de gato em raio de sol.
Cozinha com cheiro de alho refogado.
Hortelã pimenta no quarto.

Da porta pra dentro, outra dimensão.
– Sândalo com patchouli –
Sob o olhar atento de Bastet. Deusa da fertilidade.

“Se a cabeça está aqui, onde está o coração?”. Auscuta.
Fragmentos de poder e suavidade.
Em tudo, espiritualidade.

Ronronar de prazer.
Elegância felina.
Sensualidade.

Movimentos atentos.
E o arrepiar dos pelos das costas.
Alerta no gatil.

Entardece. Anoitece.
[Hiato temporal]
Exaustão e movimento. Noturnos hábitos.

Briga entre o tempo e quem tenta controlá-lo.
Madrugada adentro.
Amanhece.

Aceita. Muda a rota. Confia.
Energia, vida, amor e paz. Mãos postas.
Betina vem – fecha os olhos, ri, chora. Agradece.

Karol Felicio – Fotopoesia de Parto

O nascimento do Mateus – Mariana – Parto Humanizado

 

Quando a gente deita o pescoço sobre o ombro de alguém,
E quando a gente encosta a lateral do rosto com a lateral do outro…
Quando nossos corpos estão colados e os pés flutuam e a gente não quer que essa música acabe nunca…
É lindo. É uma dança. Uma valsa, um xote, um samba… é o ultimo tango em Paris… É parir!
Sim, para a Mariana parir é dançar aquela música que a gente não quer que acabe. É tão especial

O nascimento do Pedro – Thamires e Felipe – Parto Humanizado

 

Mar calmo, vento leve, fogo brando… Thamires.
Não carrega mais a ansiedade e os exageros das mães de primeira viagem. Já se livrou do excesso de bagagem. Tem a serenidade e doçura na medida certa. Guarda sua família debaixo das asas, como uma velha matriarca, por trás do seu rosto de menina.
Viveu seus prodromos enquanto cuidava do mais velho. Criança não tem hora pra adoecer. Enquanto esperava o mais novo. Criança não tem hora pra chegar.
Internalizou toda a dor e todo o cansaço. Se acostumou a não incomodar.
Aceitou cada contração, viveu serenamente seu trabalho de parto. De coração aberto, se entregou.
Na hora certa, se deixou descontrolar. Libertou a leoa que vive dentro dela. Rugiu. Pariu.
Lambeu sua cria mais nova, acolheu a mais velha, abrigou toda a família debaixo de suas asas e voltou a ser: mar calmo, vento leve, fogo brando… Thamires.

O nascimento do Samuel – Parto domiciliar

 

Fluidez… Moça de riso fácil e aparentemente despretensioso. Eu observo. A Isa transita. Falamos sobre o parto enquanto ela passeava entre interlocutores, respondendo aqui e ali, como não se prendesse muito a nada, como se não estivesse muito preocupada.
Entendi durante o parto, no dia seguinte. Despreocupação de quem bem sabe de quem estava cercada. A começar pelo Digo, história de pelos menos 10 anos atrás – e olha que eles só tem 27… mas parece que são parceiros há algumas vidinhas passadas… pra completar uma equipe de doulas e parteiras… uma orquestra de parto.

Sim! Como fossem músicos tocando juntos pela primeira vez e se descobrindo uma orquestra. Não teria sido mais encaixadinho se fosse ensaiado. Perfeita. Isa, mulher como regente. Isa vocalizava com maestria. com notas mais agudas ou mais graves, em melodia mais lenta ou mais apressada. Fazendo a gente respirar fundo ou então perder o ar. Fazendo nosso coração palpitar. E foi vocalizando – suave… baixo… mais forte … gostoso … intenso … nervoso … dramático … até ecoar, reverberar e trazer Samuel. Até se conhecerem e se reconhecerem naquele quarto quentinho, escurinho, protegido, cheio de amor e com cheiro de parto.

O nascimento da Malu – Dani & Saulo

 

Sonhar, planejar, arquitetar…

Construir é edificar sob sólidos pilares, tijolo a tijolo até o resultado planejado.

É com as verdades, sob nosso ponto de vista, que solidificamos em fortes pilares as expectativas sobre o nosso parto. Afinal, achamos que nos conhecemos muito bem… até parir…

Escrever um plano de parto é um dos importantes passos para uma vivencia respeitosa. E rasgá-lo é o passo mais importante para que seja transformador.

Não existe solidez no parto. Os pilares estão lá para serem quebrados. O desafio é justamente se des-construir, virar ruínas e pó, e então deixar-se transformar.

Quem viveu esse parto viu que a palavra que o simboliza é: DES-CONS-TRU-ÇÃO. O que ninguém imagina é como foi para ela se desconstruir e jogar por terra tudo o que foi planejado.

Dani destruiu sua velha casa a marretadas, quando precisou mudar a rota não titubeou, deixou-se virar ruínas, se entregou, sem pose e sem pudor, rasgou o plano, quebrou os pilares, mudou a rota, fluiu…

Dani e Saulo, se desconstruíram juntos, fluíram, se fortaleceram, se complementaram. Força, beleza e amor. Agora são uma casa nova e uma casa cheia, porque abriga dentro de si o seu maior tesouro: Malu.

O nascimento do João – Jaque

A medida do amor
Só a gente sabe o que carrega em nosso coração. Sentimentos que nem nossos pais, nem nossos filhos, muitas vezes, conseguirão acessar. Às vezes a gente precisa apertar o “pause” no controle da vida e reiniciar para as atualizações necessárias. O parto, muitas vezes, é o pause que a gente precisava. O universo não falha e a divindade age de forma intensa nos partos.
A gente, mulher que está parindo, é a principal beneficiada pela transformação que um parto causa. É no parto que nos defrontamos com nossas características e hábitos marcantes, é o parto que nos mostra o que em nós precisa morrer e o que merece ser tomado para nós, enquanto donas de nossas escolhas. Mas esse parto – domiciliar – não planejado pela Jaque – planejado pelo universo – foi generoso com a família toda. Veio resignificar relações, abrir espaço para a entrega, deixar o amor conduzir.
E como foi para essa mulher ver seu plano de um parto hospitalar ser mudado de última hora, como foi lidar com uma situação tão inesperada?
Foi… leve! Exatamente como ela é!
A Jaque é leve e deixa tudo mais leve por onde passa. Quando ela sorri, tudo envolta flutua um pouquinho acima do chão. A Jaque fluiu, junto com o parto… e fluiu tão suavemente que não deu tempo de dar entrada no hospital, nem de colocar as malas no carro, nem do marido chegar… Ela estava ali na casa dos pais e foi de mãos dadas com eles que viveu a maior parte do seu trabalho de parto.
Suave. Fluido. Leve… como ela. Não foi planejado, como não foi em vão. Era pra ser exatamente assim.
João chegou num verdadeiro lar. Com cheiro do almoço que a avó preparava. Cheiro de café – com amor e sem cafeína. Com a alegria do avô, que extravasava. O pai vindo de carro, de outra cidade, tentando conter a ansiedade, trazendo o irmão que apaixonou-se à primeira vista. Olhou, abraçou, cheirou, cortou o cordão, acompanhou atento a pesagem, os primeiros cuidados, tomou para si, desde o primeiro minuto, o papel de cuidar do irmão mais novo. Quanto cuidado! Quando amor!
O amor na medida em que cada um precisava. O amor foi o grande protagonista desse parto.

O nascimento da Helena

Helena, inesperada…

Em casa, parecia não faltar nada. Seis meses da Duda – que reinava absoluta e revolucionava. Enquanto Helena, anunciava sua chegada. Foi abrindo um espaço que sequer imaginava.

Helena, tão esperada!

Do grego Helené. De heláne, tocha. E então, Hélê, raio de sol. Helena é luz. É o raio de sol que precisava, pra florescer terra irrigada. Só podia brotar amor.

Helena, brisa. Duda, furacão.

Como pode uma mulher abrigar no mesmo ventre elementos tão diferentes? É que pouca gente sabe, Renata mora naquele olhar suave, mas dentro dela mora um tufão.